O relato sobre o uso de drogas pela humanidade, remonta os tempos mais remotos, embora o principal objetivo de sua utilização fosse o alívio da dor ou servisse como parte da realização de rituais de uma determinada cultura. A utilização de substâncias para alterar o estado psíquico é conhecida há mais de 4 mil anos, principalmente pelo povo egípcio, que àquela época já relatava o uso de opiáceos e maconha. A maioria dos medicamentos utilizados na Antiguidade era originário de plantas. Assim, a palavra "droga" é derivada de droog, que em holandês significa folha seca. 1
A definição atual de "droga" utilizada no meio científico é qualquer substância capaz de
trazer alterações no funcionamento do organismo de um ser vivo, resultando em mudanças
fisiológicas e comportamentais, sejam elas nocivas ou medicinais. 2 A capacidade de alterar os estados mentais ou psíquicos caracteriza as drogas conhecidas como psicotrópicas, que agem no cérebro e provocam mudanças nas sensações, nos pensamentos e comportamentos de um indivíduo.
A palavra psicotrópico é originária depsico (mente) e trópico (atração por). Vale ressaltar que as alterações referidas podem ser causadas por qualquer tipo de droga, porém cada substância provoca uma reação diferente no organismo. No entanto, boa parte das drogas psicotrópicas apresenta uma forte tendência a causar a dependência de acordo com a sua utilização.2
O que é Dependência Química
Embora exista uma diversidade de conceituações de dependência química, todas elas são
unânimes ao afirmar que a dependência é considerada uma relação alterada entre o indivíduo e seu
modo de consumir uma determinada substância. 2
A dependência química é uma doença crônica, caracterizada por comportamentos
impulsivos e recorrentes de utilização de uma determinada substância para obter a sensação de bemestar e de prazer, aliviando sensações desconfortáveis como ansiedade, tensões, medos, entre outras.3
A tolerância é o primeiro critério relacionado à dependência. Tolerância é a necessidade de
crescentes quantidades da substância para se atingir o efeito desejado ou, quando não se aumenta a dose, é entendida também como um efeito acentuadamente diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia imensamente entre as substâncias.
Existe um padrão de uso repetido da substância que geralmente resulta em tolerância,
abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de substâncias. Os sintomas de dependência são similares entre as várias substâncias, variando na quantidade e gravidade de tais sintomas entre uma e outra droga. Os sintomas psíquicos e sociais decorrentes da dependência do fumo, por exemplo, são absolutamente menores do que aqueles da dependência ao álcool. Chama-se "fissura" o forte impulso subjetivo ou compulsão incontrolável para usar a substância. Embora não seja especificamente relacionada como um critério, a “fissura” tende a ser experimentada pela maioria dos indivíduos com Dependência de Substância (se não por todos).
A dependência é definida como um agrupamento de três ou mais dos sintomas relacionados adiante, ocorrendo a qualquer momento, no mesmo período de 12 meses.
Os indivíduos com uso pesado de opióides e estimulantes podem desenvolver níveis
gravíssimos de tolerância, por exemplo, como se necessitasse dez vezes mais quantidade depois de algum tempo. Frequentemente, essas dosagens da tolerância seriam letais para uma pessoa nãousuária. Muitos fumantes consomem mais de 20 cigarros por dia, uma quantidade que teria produzido sintomas de toxicidade para uma pessoa que está começando a fumar.
Os indivíduos com uso pesado de maconha em geral não têm consciência de que
desenvolveram tolerância, embora esta tenha sido largamente demonstrada em estudos com animais
e em alguns indivíduos. A tolerância pode ser difícil de determinar com base apenas na estória oferecida pela pessoa, porém, os testes laboratoriais acabam mostrando altos níveis sangüíneos daquela substância, juntamente com poucas evidências de intoxicação, o que sugere fortemente uma provável tolerância. 4
Segundos os critérios diagnósticos do DSM-IV 5, a Dependência de Substância se
apresenta sob os seguintes sintomas:Um padrão mal-adaptativo de uso de substância, causando prejuízos ou sofrimento clinicamente significativos, demonstrados por pelo menos três dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses:
1. Tolerância, definida por qualquer um dos aspectos:
a. necessidade progressiva de maiores quantidades da substância pra atingir o efeito
desejado;
b. significativa diminuição do efeito após o uso continuado da mesma quantidade da
substância.
2. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos:
a. presença de sintomas e sinais fisiológicos e cognitivos desconfortáveis após a interrupção
do uso da substância ou diminuição da quantidade consumida usualmente;
b. consumo da mesma substância ou outra similar a fim de aliviar ou evitar os sintomas de
abstinência.
3. Utilização da substância em quantidades maiores ou por um período maior do que o
inicialmente desejado.
4. O indivíduo expressa o desejo de reduzir ou controlar o consumo e a quantidade da
substância ou apresenta tentativas nesse sentido, porém mal-sucedidas.
5. Boa parte do tempo do indivíduo é gasto na busca e obtenção da substância, na sua
utilização ou na recuperação de seus efeitos.
6. O repertório de comportamentos do indivíduo, como atividades sociais, ocupacionais ou de
lazer do indivíduo encontra-se extremamente limitado em virtude do uso da substância.
7. Embora o indivíduo se mostre consciente dos problemas ocasionados, mantidos ou
exacerbados pela substância, sejam físicos ou psicológicos, seu consumo não é
interrompido.
Por que ocorre a dependência?
A dependência química é entendida como uma doença que envolve aspectos
biopsicossociais, e o curso de seu tratamento deve procurar oferecer intervenções nas três áreas para alcançar maior eficácia e efetividade. 6
Sabe-se que os seres humanos aplicam seus comportamentos na busca de prazer. Sendo
assim, qualquer movimento que lhe ofereça uma sensação de bem-estar, de prazer ou aceitação social tende a ser repetido. Esse é o conceito de recompensa que permeia o comportamento humano. Dessa forma, explica-se o motivo de muitas pessoas que utilizam drogas tornarem-se dependentes, pois a substância ingerida e sua consequente ação no sistema nervoso propiciaram ao indivíduo sensações prazerosas, ainda que momentâneas. 7
Aspectos biológicos
Para sustentar os aspectos neurobiológicos da dependência, faz-se necessário mencionar o sistema de recompensa cerebral, responsável pela principal fonte de liberação do neurotransmissor dopamina. Esta substância contida nos neurônios do segmento ventral e cuja liberação ocorre no núcleo accumbens e na área pré-frontal é responsável pelas principais vias do prazer, seja de modo natural, ou através do uso das drogas. Todo esse sistema é responsável pela estimulação prazerosa, assim explicando parte do processo cerebral envolvido no uso de drogas. 6, 7
Aspectos psicológicos
Por causar uma sensação de bem-estar no indivíduo, o uso de drogas pode ser
erroneamente associado ao alívio de tensões emocionais ou preocupações do indivíduo. 4, 6 Dessa forma, entende-se que a droga é capaz de propiciar um amortecimento da vivência dos problemas emocionais de um indivíduo, mantendo-o alheio das dificuldades que deveria enfrentar na vida cotidiana. Um exemplo possível, é o dos indivíduos que apresentam um quadro de intensa ansiedade, e que para minimizar as sensações dele provindas, ingerem álcool todas as vezes que necessitam enfrentar uma situação social. Nesse caso, a dependência química pode se instalar progressivamente de maneira subjacente à ansiedade.
Aspectos sociais
Para explicar melhor estes aspectos envolvidos na dependência química, é necessário
compreender o contexto social no qual o indivíduo se encontra inserido. 4, 6 A realidade atual nos mostra que a disponibilidade da droga faz com que o álcool, o tabaco e até drogas mais pesadas,estejam muito próximas das crianças e adolescentes. O álcool é comercializado com pouco controle governamental, tornando-o uma das drogas de maior acesso pelos adolescentes. Além da disponibilidade, as camadas menos favorecidas tem carência de suporte social adequado, especialmente quanto a educação, saúde e ao emprego. Sabe-se que em muitas favelas o traficante pode exercer um papel manipulador, pois é ele quem passa a oferecer subsídios importantes no lugar da família ou dos órgãos governamentais.
Outros fatores como facilitação da interação social, a melhora dos vínculos sociais também
pode ser caracterizada como um fator psicossocial de reforçamento do uso da droga. A confiança pessoal pode ser fortalecida enquanto as barreiras ou defesas diminuem. A intoxicação e a participação em rituais, como as atuais "raves", permitem que os usuários partilhem suas experiências e sintam-se libertados das obrigações sociais normais. O propósito da intoxicação é retirar-se das responsabilidades que a sociedade normalmente espera que um adulto ou adolescente tenha. A droga também é responsável por promover a coesão e solidariedade entre membros de um grupo social: serve como meio de identificação do grupo e com o grupo
Tratamento
A dependência química é reconhecida como uma doença que afeta o indivíduo no campo
biopsicossocial e as estratégias de seu tratamento busca o restabelecimento físico, psicológico e a reinserção social do dependente. 1
O tratamento da dependência química é muito complexo, e seu sucesso e efetividade estão
intimamente ligados ao grau de motivação do indivíduo. Os sintomas da dependência não diferem em grande escala de pessoa para pessoa, mas a motivação para a mudança se apresenta de uma determinada forma para cada um, sendo assim, variável. Após uma avaliação do quadro, o tratamento mais indicado será discutido junto com o dependente, sua família e a equipe multidisciplinar. 1, 2
A internação é parte do tratamento, e não uma única estratégia. Ela é utilizada com o
objetivo de desintoxicar o indivíduo, e não implica na cura da dependência química. Além disso, a internação é necessária quando o dependente apresenta sintomas de abstinência muito intensos, ou quando quadros psiquiátricos são desencadeados pelo uso excessivo de drogas. 2
Após o período de internação (quando necessária), o acompanhamento continuado é a
estratégia mais indicada nos quadros de dependência química. Dessa forma, o tratamento
multidisciplinar permitirá ao indivíduo lidar com os sintomas de abstinência, que poderão estar mais amenos. O tratamento psicológico da dependência química visa mostrar ao paciente que ele possui em si próprio meios de enfrentamento de situações desconfortáveis sem a utilização de drogas. Como já foi dito, os aspectos psicossociais exercem um papel muito importante na manutenção da doença, pois passados os sintomas de abstinência, são eles que permanecem. Assim, o acompanhamento de um psicólogo é de extrema relevância para o tratamento da dependência química, pois mais importante do que a abstenção das substâncias que causaram a dependência, é manter o indivíduo afastado das drogas, que será um desafio constante na vida do paciente. 2
A participação do dependente químico em grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos,
Narcóticos Anônimos, e de sua família em grupos respectivos, pode ser muito importante para determinados casos no sentido de promover uma maior motivação e de fazê-lo compreender que a dependência química não é um problema que afeta apenas a sua vida. Ao perceber que outros dependentes conseguem se manter afastados das drogas, o paciente se sente motivado a conquistar o mesmo. A família, ao frequentar grupos de apoio divide suas dificuldades com familiares de outros dependentes químicos, e aprende diferentes estratégias para lidar com o problema.
Referências Bibliográficas:
1. http://www.unodc.org
2. http://www.einstein.br
3. http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid
4. Ballone GJ - Dependência Química - in. PsiqWeb, Internet, disponível em
www.psiqweb.med.br, revisto em 2010.
5. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manualdiagnóstico e estatísticode
transtornos mentais - 4º edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, 845 p.
6. http://gballone.sites.uol.com.br/voce/drogas.htm
7. http://www.nida.nih.gov
8. GRIFFITH, E. O tratamento do alcoolismo:um guia pra profissionais da saúde. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1999, 918 p.
Fonte: http://www.plenamente.com.br
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